Capítulo 1


CENA 1 – CENTRO DA CIDADE – EXTERIOR/DIA

Um incêndio terrível consome um prédio de uns 4 andares.  A certa distância, escondendo-se atrás de umas árvores, algumas crianças observam a horrível cena. Pessoas vestidas umas de branco, outras de verde, correndo pra todo lado, empurrando macas e cadeiras de rodas, misturam-se a outras também aflitas, que saem do prédio e distanciam-se levando ao colo, bebês recém-nascidos. Bombeiros trabalham a todo vapor para salvar pessoas e conter o fogo. Muita gritaria. Mulheres e homens desesperados choram e imploram pela vida de seus bebês. Centenas de viaturas de resgate e ambulâncias são ocupadas pelas vítimas da fatalidade. Viaturas se afastam zunindo suas sirenes. Fogo contido. Alívio no rosto dos bombeiros. Nenhuma morte. Isolamento com fita zebrada da área pela polícia. Soldados dão as costas em retirada rumo às viaturas. Um estrondo e eles se voltam para a construção queimada, era uma placa caindo, meio chamuscada, de onde ainda dá para se ler HOSPITAL E MATERNIDADE LUZ.


CENA 2 – COLÉGIO GABARITANDO/FACHADA – EXTERIOR/DIA

Letreiro passando na tela: “Quatorze anos depois”, sobre a primeira imagem, uma placa enorme, acima de um extenso portão de grade metálica com a inscrição “Colégio Gabaritando”. Câmera segue adentrando o portão, avançando para o pátio, dando detalhes de uma rampa larga e calçada, com lindos jardins de cada lado até parar numa placa, no alto de um prédio com a inscrição “Bloco B, Ensino Fundamental II”.


CENA 3 – PÁTIO DO COLÉGIO/BLOCO B – INTERIOR/DIA

Vista de duas garotas caminhando paralelamente, vindo do pátio. Letícia, uma menina de 14 anos, magra, loira, de cabelos bem lisos e Valquíria, sua melhor amiga, morena, alta e magra, de cabelos avermelhados. Estudam na mesma turma de Nono ano. Vistas de frente, elas conversam andando pelo pátio, vindo em direção a um banco, no jardim.

                               LETÍCIA
Tá chegando a formatura e falta ainda uma parcela pra pagar. Não sei o que fazer, meu pai não tem dinheiro e minha mãe tá desempregada. Pousou o maior urubu, lá em casa.
                  
                                VALQUÍRIA           
                                Eu já falei que empresto pra você. Amigas também são pra essas coisas.

                   Sentam-se no banco. Acomodam o material ao lado.

                                LETÍCIA                 
                               Olha. Se fosse em outra época eu não aceitaria, não! Mas a coisa tá feia lá em casa. (Tom) Mas você    vai ter que esperar um tempinho pra eu te pagar...
                  
                                VALQUIRIA           
Não se preocupe com isso, agora. O mais importante é você pagar a última parcela pra gente festejar juntas.
                  
                                LETÍCIA
                                Obrigada, amiga! Não vou esquecer disso que você tá fazendo por mim. Valeu mesmo!

                   Três meninos passam correndo e gritando. Letícia e Valquíria acompanham o tumulto com a cabeça.

                                VALQUÍRIA           
                                Nossa! Aonde vão com tanta pressa?

Letícia levanta, segue os meninos com um movimento inclinado de corpo e abre as mãos em sinal de dúvida.


CENA 4 – ESTACIONAMENTO DO COLÉGIO/BLOCO B – EXTERIOR/DIA

No estacionamento, dois rapazes tiram enormes malas de uma Kombi. Andando em direção ao pátio, são atropelados pelos garotos. Confusão geral. Um dos rapazes é Cleber, motorista. 30 anos, forte, branco. Seu ajudante é um garoto de 17 anos. Magro, alto e com cabelos pretos arrepiados, com muito gel. Ficam caídos.

                                CLEBER
                                (Sentado com a multidão de garotos ao redor) Que foi isso, Cristiano! Um terremoto?

                                CRISTIANO
             (Abobalhado) Acho que foi um caminhão a 300 km por hora que nos atropelou. Ai...ai...


CENA 5 – SALA DO DIRETOR – INTERIOR/DIA

Na sala do Diretor é possível escutar o barulho da confusão. Ele, com seus 50 anos, meio calvo, de óculos, rosto liso de uma barba bem feita e um imponente terno preto e gravata vermelha, caminha até a janela. Puxa pelo cordão a persiana, abrindo-a por completo. Percebe o movimento. Assusta-se com a agitação no estacionamento. Vira-se e sai correndo, abrindo a porta da sala, bruscamente. Segue para o pátio, sério.


CENA 6 – JARDIM DO COLÉGIO/BLOCO B – EXTERIOR/DIA

Letícia e Valquíria ainda estão sentadas. Conversam e espiam a movimentação no colégio a todo o momento. Luíza e Soraia, amigas de turma, aparecem correndo. Param e contam a última novidade à Letícia e Valquíria.

                                LUÍZA    
                                Vocês vão ficar aí? Não sabem quem chegou?

                                LETÍCIA
                                Não.
                                VALQUIRIA
                                Mas com certeza ficaremos sabendo, não é?

                                SORAIA
                                É lógico! As becas chegaram. Vocês não vão lá experimentar?

                                VALQUIRIA          
             (Fazendo uma gracinha) Vamos sim. Mas não tão rápido que eu acho que elas vão nos esperar!

                                LETÍCIA                 
 (Entrando no jogo) É sim. Podem escolher as melhores cores, não nos importamos em ficar com as becas pretas. (Risinhos)

                   Soraia puxa Luíza para o lado. Cochicha ao seu ouvido.

                                SORAIA                 
                                Você entendeu, Val? Eu pensei que todas as becas fossem pretas.

                                LUÍZA    
             Mas é claro que são, sua tonta! Não vê que elas tiraram onda com a nossa cara?
                               

CENA 6 – ESTACIONAMENTO DO COLÉGIO/BLOCO B – EXTERIOR/DIA

No estacionamento os meninos ajudam os atropelados a se levantarem. Estes agradecem, limpam os joelhos e batem uma mão na outra retirando a poeira.
  
                                CLEBER
                                Vocês iam tirar o pai da forca ou o quê?

                                CRISTIANO
                                É. Ou vocês costumam receber as visitas desse modo sempre.

                   Um dos rapazes, Jeferson, o líder do cordão da correria, se desculpa, ajudando os caídos a se levantarem.

                                JEFERSON
                                Olha, desculpa a gente! Estamos empolgados com a formatura. É isso.

                   Enquanto isso, Pablo, o curioso, dá a volta por trás e faz uma vistoria nas malas.

                                PABLO
                                Por acaso aquelas roupas de pinguim, que vemos nos filmes, estão nestas malas?

                                CLEBER
             Por acaso aquelas roupas tem um nome, becas, e não por acaso, estão nas malas, sim.

                                CRISTIANO
                                E estamos levando esses trambolhos aqui para a sala do diretor...

                                JEFERSON
                                Que por sinal vem vindo aí com cara de bravo. Sujou, galera!

O Diretor Anselmo vem se aproximando a passos rápidos. Chuta as pedras e os galhos que encontra pela frente. Caminha sem parar.




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